Natal/ RN - terça-feira, 10 de setembro de 2024
(84) 99128-5300

Inovadora: Pesquisa no RN reforça a importância dos recifes de corais na purificação do ar

Publicado em: 25/08/2024 - 8h09
Inovadora: Pesquisa no RN reforça a importância dos recifes de corais na purificação do ar

Natal/RN – No litoral do Rio Grande do Norte, uma pesquisa inovadora tem chamado a atenção da comunidade científica para um aspecto menos conhecido dos recifes de corais: sua capacidade de contribuir para a purificação do ar.

Além de sua já reconhecida importância para a biodiversidade marinha, os corais agora são vistos como aliados potenciais no enfrentamento às mudanças climáticas.

Uma das funções mais importantes dos recifes de corais é a capacidade de absorver algumas substâncias nocivas da atmosfera, auxiliando a regulação da composição química do ar e da água.

O pesquisador e professor Natan Pereira, tem desenvolvido uma jornada de pesquisa na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), administrada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – Idema/RN, que evidencia, com bastante análise e monitoramento, que os corais do RN estão absorvendo carbono de queima de combustível fóssil globalmente.

Ele conseguiu constatar que o carbono lançado na atmosfera lá na China, é absorvido no coral em Maracajaú. Em um momento em que o mundo busca soluções para enfrentar as crises ambientais, os corais emergem como aliados indispensáveis na luta pela preservação da vida no planeta.

A contribuição dos recifes de corais na mitigação das mudanças climáticas está intimamente ligada à capacidade natural de capturar e armazenar carbono da atmosfera, a atuação como barreiras naturais para redução da força das ondas e tempestades às zonas costeiras contra a erosão e a rica biodiversidade de espécies como resiliência dos ecossistemas marinhos aos efeitos das mudanças climáticas.

“O que eu faço é utilizar sinais químicos incorporados nos corais para contar um pouco da história climática do nosso planeta.

Os corais funcionam como um HD, à medida que vai se desenvolvendo, também vai armazenando uma série de informações.

Ele é um organismo muito sensível, e qualquer alteração ambiental pode levá-los à morte. Essa morte sem dúvidas levará às consequências, tanto pela perda da biodiversidade quanto para a economia. Os corais nos mostram como está a situação climática da Terra e como podemos pensar em ideias de conservação”, explicou Natan.

Corais têm a capacidade de absorver dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa. Durante o processo de calcificação, os corais utilizam o CO2 dissolvido na água para formar seus esqueletos de carbonato de cálcio, removendo-o assim do ambiente aquático.

Esse processo ajuda a reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera, contribuindo para a mitigação do aquecimento global.

Além do CO2, os recifes de corais também desempenham um papel na absorção de outras substâncias, como nutrientes em excesso provenientes de atividades humanas, que podem causar eutrofização e danificar os ecossistemas marinhos.

Os corais, juntamente com outros organismos que compõem o recife, ajudam a filtrar e a manter a qualidade da água, protegendo a biodiversidade marinha.

Biodiversidade

A conservação e proteção dos recifes de corais são essenciais para manter esses processos naturais funcionando. A destruição desses habitats, seja por mudanças climáticas, poluição ou práticas de pesca destrutivas, compromete a capacidade dos recifes de realizar essas funções vitais.

Portanto, a preservação dos recifes não é apenas uma questão de biodiversidade, mas também de manter a saúde do nosso planeta e a qualidade do ar que respiramos.

O coordenador executivo do Programa de Monitoramento Turístico na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), Keliton Gomes, fala sobre a importância da realização de trabalhos de pesquisa e avanços na área ambiental.

“A parceria institucional entre o Estado e a Funcitern, junto a UFRN e outras instituições de ensino e pesquisa tem possibilitado o avanço significativo de estudos na área ambiental, especialmente na saúde dos ambientes recifais e na mitigação das mudanças climáticas. São dados que ao longo dos anos darão subsídios na estruturação de políticas e desenvolvimento de ações na temática de conservação da natureza e adaptabilidade”, comentou Keliton.

As alterações nos padrões de temperatura afetam diversos ecossistemas, desde os recifes de corais até as áreas de caatinga, colocando várias espécies em risco. Na caatinga, por exemplo, as mudanças no regime de chuvas têm provocado uma degradação dos habitats naturais, dificultando a sobrevivência de várias espécies endêmicas.

A fragmentação dos habitats também impede a migração natural e a adaptação das espécies às novas condições climáticas, exacerbando ainda mais a vulnerabilidade da biodiversidade.

Iniciativas de conservação, como a parceria do órgão ambiental com instituições de ensino, a criação de áreas protegidas e projetos de restauração ecológica, são cruciais para mitigar esses impactos. “O futuro da biodiversidade no Rio Grande do Norte dependerá das nossas ações nos próximos anos.

Educação ambiental, pesquisa científica contínua e, acima de tudo, do engajamento da sociedade são instrumentos essenciais no enfrentamento às mudanças climáticas. Só assim poderemos ajudar na proteção da riqueza natural que caracteriza o nosso estado, não apenas em ambiente marinho, mas em todos os outros”, comentou a supervisora do setor de Clima e Desertificação do Idema, Wanessa Dunga.

Museu dos Corais

Inaugurado em 2022, o Museu dos Corais é um espaço interativo e inclusivo sobre os oceanos com foco na conservação desses animais marinhos. Localizado no Ecoposto da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), o espaço é uma iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em parceria com o Idema, através de recursos financeiros do Instituto Serrapilheira, a primeira instituição privada, sem fins lucrativos, de fomento à ciência no Brasil.

O Museu é repleto de recursos e informações sobre a conservação desses organismos marinhos, convida o visitante a fazer uma viagem nos oceanos, especificamente nos recifes de corais do Litoral Norte Potiguar, trazendo informações sobre o estado atual de conservação dos ambientes coralíneos e a importância da educação ambiental para a manutenção das áreas.

Utilizando um rico acervo de exemplares da fauna, atividades interativas e instalações artísticas, o equipamento apresenta as espécies ameaçadas e as áreas foco da Unidade de Conservação, além das diversas ações e projetos desenvolvidos para a proteção desse ambiente.

Entrevista com o professor Natan Silva Pereira:

 O que motivou a realização dessa pesquisa sobre os corais do RN e a absorção de carbono?

Nossa pesquisa tem como principal objetivo reconstruir o clima a partir dos dados químicos absorvidos pelos corais. Um dos pré-requisitos para esse trabalho é encontrar corais antigos, e algumas regiões do Rio Grande do Norte são extraordinárias nesse sentido, com ecossistemas recifais fantásticos, onde podemos encontrar colônias extensas, indicando que são muito antigas.

Outro fator importante é o caráter isolado desses ecossistemas, especialmente no Atol das Rocas, onde os corais não sofrem impacto direto de centros urbanos. Isso nos permite assumir que a química dos oceanos incorporada nesses corais reflete um ambiente mais próximo dos processos que ocorrem entre oceano e atmosfera em escala global. Esses fatores fazem do Rio Grande do Norte uma região estratégica para esse tipo de pesquisa.

– Quais medidas podem ser tomadas para proteger os corais do Rio Grande do Norte contra os efeitos negativos da absorção de carbono?

Essa é uma questão de caráter global, muito mais ampla do que ações locais. É provável que o carbono de origem antrópica detectado no estudo seja de regiões distintas do globo, e não de origem local. Portanto, as ações de mitigação precisam partir de um contexto global. Existe um intenso debate internacional em que os países estão estipulando metas e estratégias para a diminuição do uso de combustíveis fósseis. Estamos vivendo um momento ímpar na história, em que possivelmente testemunharemos uma transição energética que pode levar a uma diminuição considerável na queima de combustíveis fósseis e, consequentemente, na concentração de CO2 na nossa atmosfera.

– Qual é a relação entre a queima de combustíveis fósseis, as mudanças climáticas e a situação observada nos corais do RN?

Está tudo interligado. A queima de combustíveis fósseis libera dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, uma molécula que interage com a radiação infravermelha emitida pela Terra, retendo o calor no nosso planeta. Por isso, moléculas como o CO2 são denominadas gases de efeito estufa. Desde a Revolução Industrial, o ser humano tem emitido toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera, elevando a temperatura global. Nos últimos anos, atingimos limites críticos para a concentração de CO2, o que tem levado a eventos extremos, como as ondas de calor, que estão se tornando mais frequentes e intensas.

Esses eventos podem desencadear o fenômeno conhecido como branqueamento dos corais, comprometendo a saúde desses organismos e podendo levar à morte. Monitoramentos realizados por pesquisadores, como Guilherme Longo da UFRN, têm avaliado os impactos desse fenômeno nos recifes do RN, e nos últimos eventos, tem-se notado que uma porcentagem cada vez maior de corais sofre branqueamento. Corais branqueados podem se recuperar, mas, quando esses eventos se tornam muito frequentes, a resiliência dos corais é comprometida, pois o intervalo entre os episódios estressantes fica cada vez mais curto.

– Quais são os principais desafios enfrentados na mitigação dos impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas marinhos?

Um dos principais desafios é que essas ações requerem articulação global, já que todos os ecossistemas marinhos estão sob pressão, mesmo em regiões isoladas como o Atol das Rocas. É fundamental que todas as nações, especialmente as maiores poluidoras, cumpram as exigências dos acordos internacionais, como o Acordo de Paris, e se esforcem para alcançá-las. Isso exige altos investimentos para subsidiar mudanças no sistema de produção de bens, impactando a economia de diversos países e setores poderosos, como a indústria petrolífera. Precisamos ter ciência e honestidade para entender que não se trata de uma mudança simples ou rápida, para que todos os setores econômicos possam evoluir para modelos de baixo impacto de carbono e chegar a um denominador comum. Afinal, não queremos resolver a crise das mudanças climáticas criando outra crise, a econômica, com consequências que podem levar a crises humanitárias. Contudo, também não podemos continuar ignorando os efeitos das mudanças climáticas em diversos setores da economia, o que também pode levar a crises econômicas e humanitárias.

 

Tags: ,

O que você achou? Siga @natalemfoco no Instagram para ver mais e deixar seu comentário clicando aqui

Cobertura do Natal em Foco Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Rio Grande do Norte, Brasil e do mundo? Siga o Natal em Foco nas Redes Sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Comunicado da Redação – Natal em Foco
Site de notícias em Natal, aqui você encontra as últimas notícias da Capital e demais municípios do Rio Grande do Norte. Destaque para seção de empregos e estágios, utilidade pública, publicidade legal e ainda Turismo, Web Rádio, Saúde, política, entretenimento e esportes. Natal em Foco, Online desde 2023, anuncie conosco e tenha certeza de bons negócios.

Siga o Natal em Foco Nas Redes Sociais

Tags:,


Desenvolvido por Argo Soluções

:::: PUBLICIDADE :::::

::: Anuncie Conosco - https://natalemfoco.com.br :::